Muitos pacientes, familiares, amigos assim como eu, sofrem dores e outros sintomas relacionados à sensibilidade ao glúten e estão sendo apontados como seguidores de modismo alimentar. Afinal, qual é a explicação para sensibilidade ao Glúten?
Glúten é uma mistura de proteínas (gliadina, glutenina, albumina e globulina) e representa de 7 a 15% da composição total das sementes de cereais da família das gramíneas, como o trigo, cevada, triticale e centeio. A aveia, não contém glúten, mas normalmente são processadas em fábricas e moinhos que também processam cereais que contém esta substância, causando assim a contaminação da aveia pelos resíduos de glúten.
Para entender as novas pesquisas sobre a sensibilidade ao glúten, primeiro é importante entender as duas doenças induzidas pelo glúten: a doença celíaca e a alergia ao trigo. As duas doenças envolvem o sistema imune.
- Na doença celíaca, a presença de glúten no intestino delgado dispara uma resposta do sistema imune adaptativo, a parte do sistema imune que reage a invasores específicos com a produção de anticorpos. A reação imune indesejada acaba levando o corpo a atacar suas próprias células saudáveis que forram o intestino delgado. Um das razões para a ocorrência dessa resposta indesejada é que indivíduos com doença celíaca têm um aumento da permeabilidade intestinal. O intestino delgado normalmente é revestido por junções de células firmes; mas, em pessoas com doença celíaca, a adesão celular não se sustenta. Fragmentos de glúten podem escapar por essas lacunas e provocar uma resposta imune adaptativa que danifica o tecido intestinal.

Nos últimos anos, os cientistas têm estudado a relação entre a doença celíaca e doenças autoimunes para descobrir se existe uma relação causal ou um fator comum envolvido nestas doenças. Eles encontraram pacientes com doença celíaca, diabetes tipo 1, esclerose múltipla, artrite reumatoide e doença inflamatória intestinal, todos têm uma quantidade anormal de permeabilidade no intestino delgado. Pensa-se que esta permeabilidade se relaciona com uma molécula secretada pelo intestino, a Zonulina, que regula a passagem de moléculas fluidas, grandes e células imunes entre os compartimentos do corpo. Em doentes com doença celíaca e algumas outras doenças autoimunes, níveis elevados de Zonulina aumentaram a permeabilidade do intestino delgado. Em doentes com doença celíaca, o aumento da secreção de Zonulina é devido à exposição ao glúten.
Acomete cerca de 1% da população e quase todos os pacientes comportam os genes HLA-DQ2 ou HLA-DQ8, ou ambos.
Os sintomas clínicos variam de acordo com a faixa etária.
Crianças pequenas costumam apresentar: diarreia, distensão abdominal e problemas de desenvolvimento. Vômito, irritabilidade, falta de apetite e mesmo prisão de ventre são sintomas que podem fazer parte do quadro.
Na puberdade e adolescência pode ocorrer: anemia, baixa estatura e sintomas neurológicos.
Nos adultos, a apresentação clássica é de crises de diarreia acompanhadas de dor e desconforto abdominal. A diarreia, no entanto, nem sempre é o sintoma dominante, há outros mais silenciosos como: a anemia por de deficiência de ferro, osteoporose, emagrecimento, dermatites, redução dos níveis de cálcio, alterações hepáticas, sintomas neurológicos e prisão de ventre.
A prevalência é de duas ou três mulheres para cada homem. É uma das poucas doenças autoimunes em que o agente precipitante é conhecido: o glúten. É uma doença crônica que exige a eliminação total de glúten da dieta por toda a vida.
- A alergia ao trigo, também é mediada em parte pelo sistema imunológico adaptativo. Nessa doença, o glúten induz a síntese de anticorpos IgE que provocam uma inflamação. A inflamação pode provocar desconforto local.
É desencadeada não só pela ingestão de comidas e bebidas que têm o trigo como ingrediente, mas também pela inalação de farinha em suspensão no ar.
É mais comum em bebês e crianças pequenas, que ainda estão desenvolvendo seus sistemas imunológicos e digestivos. Ela tende a desaparecer conforme elas crescem, mas adultos também podem vir a desenvolver a doença.
Alguns de seus sintomas são parecidos com os da doença celíaca, como cólicas estomacais ou diarreia. A diferença é que a alergia não causa dano intestinal, como ocorre na doença celíaca. Enquanto a doença celíaca prejudica gradualmente o intestino, a alergia ao trigo tem sintomas quase instantâneos. Quando um alérgico ingere um alimento que contenha esse cereal, ele logo sente coceira na pele, irritação ou inchaço na boca ou na garganta ou dor de cabeça. Também é comum que seu nariz comece a escorrer e que ele comece a espirrar.
Em casos mais graves – e raros –, essa alergia pode levar ao fechamento da glote e à anafilaxia, uma reação que pode ser fatal. Nesses casos, a pessoa sente a garganta inchar ou apertar, dores no peito, dificuldade severa para respirar e engolir, taquicardia e tontura.
O diagnóstico da alergia ao trigo geralmente é feito por meio de um teste de alergia realizado na pele. Também pode ser necessário fazer exames de sangue.
O tratamento é parecido com o da doença celíaca: os alérgicos devem suspender o consumo de trigo, apesar de estarem liberados para consumir centeio e cevada. Em alguns casos, eles podem até voltar a comer trigo (os celíacos, jamais).
Pessoas com sensibilidade ao glúten, por outro lado, não apresentam evidências para o tipo de reações imunes que ocorrem em pessoas com doença celíaca ou alergia ao trigo.
Então o que está provocando a sensibilidade ao glúten?
Algumas pesquisas recentes sugerem que o problema também está no sistema imune. No entanto, em vez de ser provocada pela porção adaptativa, acredita-se estar associada ao sistema imune inato.
O sistema imune adaptativo produz anticorpos específicos e personalizados.
O sistema imune inato não produz anticorpos que reconhecem invasores específicos. As células do sistema imune inato têm receptores conhecidos como TLRs que reconhecem grandes padrões presentes em grande variedade de invasores. Então, os TLRs disparam uma resposta inflamatória rápida.
Um estudo descobriu que pacientes sensíveis ao glúten tem maior expressão dos TLRs se comparado a pacientes do grupo de controle. Essa descoberta sugere o envolvimento do sistema imune inato.
Mas será que essa resposta imune é realmente provocada apenas pelo glúten contido nestes grãos?
Dados de outro estudo sugerem que uma outra família de proteínas do trigo pode ser a responsável. As proteínas inibidores de amilasetripsina ou ATIs ativaram um tipo de TLR e provocaram uma resposta imune inata em células do sistema imune humano e em ratos vivos.
A quantidade de ATI no trigo sofreu um aumento dramático em anos recentes. Proteínas ATI naturalmente protegem o trigo de pragas.
Como o trigo é produzido para ser cada vez mais resistente a pragas, a quantidade de ATI também aumenta. Um aumento em ATIs pode explicar o que parece ser uma quantidade cada vez maior de pessoas sensíveis ao glúten.
Carboidratos do trigo, conhecidos como FODMAPs (acrônimo para carboidratos fermentáveis não absorvíveis) também foram implicados. Essas moléculas, no entanto, não provocam desconforto abdominal e outros sintomas devido a uma resposta imune. Em vez disso, a natureza não digerível desses carboidratos pode provocar retenção hídrica e produção de gás no intestino delgado, levando a inchaços.
Conclusão: A sensibilidade ao glúten não celíaca é uma expressão genérica que incorpora uma grande variedade de possíveis aspectos clínicos e podem ocorrem em 6% da população. Dentre as queixas mais frequentes estão: Sintomas gastrointestinais que incluem desconforto abdominal, distensão abdominal, dor, diarreia e prisão de ventre, ou uma variedade de sintomas extra intestinais, como: Dores de cabeça, enxaqueca, “mente nebulosa”, depressão, fadiga, dores articulares e musculares, e erupções cutâneas.
A tabela abaixo resume o espectro de distúrbios relacionados ao glúten.

Com o aumento do consumo mundial de grãos, nós médicos recebemos diariamente nos nossos consultórios pacientes com distúrbios relacionados ao glúten e, apesar da sensibilidade ao glúten não celíaca ser uma entidade clínica reconhecida há pouco tempo e a sua fisiopatologia ainda não estar totalmente compreendida, a grande melhora clinica com a eliminação ou restrição do glúten da dieta destes pacientes fala a por si.
Consulte sempre um médico Nutrólogo para fazer alterações ou restrições a sua dieta. Coordenar e equilibrar as vitaminas, minerais, proteínas, enzimas e hormônios necessários para o bom funcionamento do organismo e uma tarefa bem mais complexa do que parece.
Os alimentos a base dos grãos citados acima, além das proteínas que compõe o glúten, têm na sua composição fibras que também são encontradas em inúmeros outros alimentos que não contem glúten como, por exemplo: Amêndoas, berinjela, banana verde, chia, linhaça, verduras e legumes em geral.
As fibras trazem benefícios para a saúde, ajudam a controlar a glicemia e triglicérides, aumentam a absorção de vitaminas e minerais, melhoram a flora intestinal deixando assim o sistema imunológico mais forte.
Observação importante: Glúten não é fibra. (Fibra dietética ou alimentar é um carboidrato não digerível presente em alimentos derivados de vegetais.
Ela tem dois componentes principais: A fibra solúvel que dissolve em água, é facilmente fermentada no cólon em gases e subprodutos fisiologicamente ativos, pode ser pré-biótica e viscosa. A insolúvel é eliminada no bolo fecal intacta). Não se deixe confundir com informações soltas da mídia.
Referências: 1.National Digestive Disease Information Clearinghouse , Celiac Disease Foundation, 2. Robert C. Dahl, MD, Apresentação na 23 ª Conferência Anual CSA, Setembro de 2000. 3. Ibid. 4. Câmara Nacional de Informações sobre Doenças Digestivas . 6. Mayo Clinic News , Junho de 2009. 6. National Digestive Diseases Information Clearinghouse , Gluten Intolerance Group of North America , Alessio Fasano, Surpresas da doença celíaca, Estudo de uma doença potencialmente fatais desencadeada por alimentos descobriu um processo que pode contribuir para Muitos distúrbios auto-imunes, Scientific American, agosto de 2009. 7. Fasano em 37. 8. Fasano em 39. 9. Ibid. 10. Pekka Collin et. Al, Distúrbios Endocrinológicos e Doença Celíaca, Endocrine Reviews, 2002, p. 473. 11. Collin at 477. 12. National Digestive Diseases Informação Clearinghouse. 13. Ibid. 14. Peter HRGreen e Rory Jones, Doença Celíaca: Uma Epidemia Escondida (New York, HarperCollins) 2006, páginas 48-49. 15. Kenneth Fine, MD, Enterolab Perguntas Freqüentes , 2006.
Dra. Marcia Tornavoi
Nutróloga Homeopata
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